Sobre dons, resiliencia e cobranças...
Ela passou o final de semana triste e pensativa, toda vez que pensava nas suas qualidades caia em choro, como poderia alguém viver assim? Tendo vergonha, se sentindo mal com as qualidades que tinha, sua mãe achava que ela estava deprimida, mas ela mesma não tinha certeza disso, embora em todas as partes da vida ela estivesse bem, sentiasse envergonhada de si, do sucesso...
Lembrava-se a todo o momento sobre a conversa com o coach, ele dizia que liderança era um dom nato dela, e que via que só por ser fácil para ela, ela não dava o devido valor a isso. "Só por ser fácil para você, não quer dizer que não tenha valor!"
E a cada vez que lembrava, se questionava, se o que lhe doia mais era saber ter esse dom, ou tê-lo e nega-lo. A idéia de sucesso lhe parecia tão próxima e ao se imaginar grande, com sucesso, lhe dava dores fortes no estomago, tinha vontade de sumir, parar o coaching e voltar para sua zona de conforto.
Mas não era isso que ela procurava quando foi em busca de auxílio profissional? Sucesso! Ela brigava com seus sentimentos o tempo inteiro. Ela sabia pelas dificuldades que a vida lhe deu, fora treinada pela família de certa forma para ser vitoriosa não importava o que acontecesse... as vezes diante de uma dificuldade vencida, ela usava uma frase "Posso pular numa piscina de merda, que saio cheirando a jasmim". Ela era assim resiliente, já trabalhara com o que não gostava, havia parado de estudar e voltado, pedido a conta sem ter nada em vista só pra resolver problemas familiares, de tudo isso ela parecia sair ilesa.
Nesses momentos ela se lembrava de uma conversa com o ex-namorado, certa vez ele disse que ela parecia distante de todos, como se ela fosse outra pessoa, que nunca se mostrava a ninguém... Inclusive citava uma foto que ela adorava e que ele odiava, ele dizia que naquela foto, dava pra ver, o quão dura ela era, parecia não demonstrar sentimentos....
Sair da zona de conforto dela, refletir sobre si, era apavorante, quando foi que ela passou a negar suas qualidades, sentimentos, fugir de si mesma, e se cobrar muito, muito, a busca pela perfeição era uma constante, mas sabia que perfeição era utopia...
Tinha medo de ter encontrado a sua perfeição dentro de tudo que procurava, o que faria depois? Se aquilo era tudo que queria, o engraçado é que os seus sonhos ainda não estavam completos e nem realizados mas a oportunidade de tê-los a mão era eminente, isso era assustador demais pra ela, perceber que os limites só estavam na cabeça dela, o tempo todo... era o seu pior fantasma...
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